sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Estamos dormindo
Após perambular durante toda a noite em vigília,
eles caíam exaustos a dormir nos parques.
"Estavam tão esgotados de andar toda a noite que
se deixavam cair nos bancos e dormiam no mesmo
instante. Outros tombavam na grama molhada
e dormiam o sonho da fadiga, apesar da persistente chuva."
"Nos bancos, em ambos os lados se acomodava uma massa humana miserável.
Soprava um vento frio e cortante, e aquelas criaturas se envolviam em seus farrapos, em sua maioria dormindo ou tentando dormir. Havia uma dúzia de mulheres, cujas idades iam dos vinte aos setenta anos. Junto a elas um bebê de uns nove meses dormia em um banco, sem travesseiro ou cobertor e sem que ninguém o vigiasse.
Meia dúzia de homens dormiam em pé ou apoiados uns nos outros. Uma família, o filho dormindo nos braços da mãe adormecida, e o marido ou companheiro desajeitadamente costurando um sapato roto.
Em outro banco, uma mulher cortava com uma faca tiras de seus farrapos e outra, com uma agulha e linha, cozia os remendos.
Ao lado, um homem sustentava em seus braços uma mulher adormecida.
O que mais me surpreendia era essa multidão de adormecidos. Por que nove entre cada dez estavam dormindo?
Só o pude saber mais tarde. Há uma lei que estabelece que os sem-teto não podem dormir à noite."
Posto isso hoje, porque cada dia que tenho que passar pelo centro e dividir a mesma calçada com essa história o qual eu faço parte e não sei muito bem como ajudar, me sinto impotente. A pergunta que me faço: "O que podemos fazer mais hoje do que ontem?"
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Vede, vede, é dia já... Vede o dia... Fazei tudo por reparardes só no dia, no dia real, ali fora... Vede-o, vede-o... Ele consola... Não penseis, não olheis para o que pensais... Vede-o a vir o dia... Ele brilha como ouro, numa terra de prata. As leves nuvens arredondam-se à medida que se cobrem... Se nada existisse, minhas irmãs?... Se tudo fosse, de qualquer modo, absolutamente coisa nenhuma?
Fernando Pessoa: O marinheiro
Fernando Pessoa: O marinheiro
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Morre e transforma-te!
A cobra que não consegue livrar-se de sua casca morre.
O mesmo acontece com os espíritos que são impedidos
de mudar as suas opiniões; eles deixam de ser espirito.
Nietzsche
O mesmo acontece com os espíritos que são impedidos
de mudar as suas opiniões; eles deixam de ser espirito.
Nietzsche
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