sexta-feira, 10 de junho de 2011

Passagem pela dor




Faz 3 anos que aquela dor passou. Passou pelo meu passado e me trouxe para o presente. Aquela dor mal vivida e bem dormida. A única coisa que me interessava naquela época era morrer. Matava a mim mesma como se mata as ilusões e os sonhos idealizados num futuro distante e próximo. Tinha poucos amigos, podia contar nos dedos de uma única mão. Palominha, minha irmãzinha de solidão. 6 meninas num apartamento dividindo o mesmo lugar. Paloma me tirou do buraco do “Eu” e me ensinou o que é ser dois em um. Aceitei, peguei na mão firme e aceitei ajuda. Outro apartamento 4 meninas, dessa vez cada uma em seu quarto. Éramos 4, eu e Paloma, duas, amigas. Á tarde todas trabalhavam e ficava eu, a rede, o silencio, o pó de minério e o piano. Ouvia música saindo das teclas jamais tocadas por mim, um sonho realizado, um piano, na sala, um piano e eu. Levantei, deitei-me na rede, fechei os olhos e chorei, solucei e desisti de pensar e peguei no sono. Era muita solidão pra uma pessoa só. Um nó na garganta e uma angustia impertinente no peito que não tinha hora marcada para me deixar em paz. O telefone dentro da minha mão, não tocava, nem vibrava. De minuto em minuto eu apertava o botão para ver se por acaso alguma mensagem pudesse aparecer me trazendo uma esperança. Esperança de viver novamente. E dormia, depois de tanto chorar na rede, dormia. Acordava e ninguém ao lado, ninguém em casa. Só eu e minha solidão só. Nenhum bilhete. Olhei para o piano e ouvia um chamado. Sentei na cadeirinha macia do piano sem encosto, descobri as teclas, respirei fundo todo aquele pó de minério que era obrigada a respirar todos os dias, fechei os olhos e da minha boca calada saíram sussurros. Minhas mãos em posição de concha queriam partir para o ataque, preparada para fazer um estrago e mudar a minha vida para sempre. Inclinei-me para frente e apertei as teclas de marfim como uma força de quem implora para ser salva. Fui invadida pelas notas dentro do meu corpo senti meu sangue quente vibrar, chorava sem parar, era linda estar morta por dentro e ninguém desconfiar. A música ia se transformando dentro daquela partitura que eu mal sabia ler, e não precisava. Meus dedos se apressavam que nem cavalinhos selvagens, como se aquela misteriosa música pudesse me libertar. Não conseguia parar, não desisti, não cansei, não chorei. Continuei, e continuo a acreditar que a história que conto hoje passou. Passou pelo meu passado e me trouxe de presente a vida.

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